Acusado de matar torcedor com vaso sanitário diz que ‘quer pagar a dívida’

Acusado de matar torcedor com vaso sanitário diz que ‘quer pagar a dívida’

Começou, por volta das 9h40 da manhã desta quarta-feira (2), o júri popular dos três acusados de envolvimento no crime que matou o torcedor Paulo Ricardo Gomes da Silva, de 26 anos, no Recife. O jovem foi atingido por um vaso sanitário no entorno do estádio do Arruda, na Zona Norte da capital, em maio de 2014. O júri é presidido pelo juiz Jorge Luiz dos Santos Henriques, na 2ª Vara do Tribunal do Júri do Recife, no Fórum Desembargador Rodolfo Aureliano.

O Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) prevê que o julgamento acabe por volta da meia-noite, podendo se estender até a manhã de quinta-feira (3).

Waldir Pessoa Firmo Júnior, 34 anos, Luiz Cabral de Araújo Neto, 30 anos, e Everton Filipe Santiago Santana, 23, vão responder por homicídio consumado e três tentativas de homicídio. Os advogados de Waldir e Luiz afirmaram que o entendimento é de que houve uma culpa consciente dos réus no caso. “Ele tinha a noção da probabilidade de acontecer o fato, mas o fato não era desejado. Na prática, o crime deixa de ser homicídio doloso passando para um homicídio culposo, porque ele agiu e o resultado era presumível, mas não era a intenção. A intenção dele era o dano”, afirmou o advogado Paulo Sales, que faz a defesa de Luiz Cabral.

Rômulo Alencar, advogado de Waldir, também comentou que, além da tese de culpa consciente, vai tentar a desclassificação do crime. “Baseados nas perícias das vítimas sobreviventes, vamos tentar a desclassificação de tentativa de homicídio para lesões corporais”, afirmou. Alencar disse ainda que Waldir assumiu o risco de ter produzido a tragédia. “Ele me confidenciou que quer pagar a dívida dele com a sociedade”, afirmou o advogado.

Já o advogado que defende Everton afirmou que a tese será da negativa de autoria. “Já está provado nos autos que o nosso cliente não arremessou o vaso sanitário”, explicou Adelson José da Silva, advogado de Everton, acusado de ter arrancado os vasos sanitários dos banheiros do estádio. “A intenção dele, quando arrancou o vaso, não era arremessar, era quebrar, o objetivo era vandalismo”, afirmou.

Silva também acrescentou que a defesa também tem como tese a desclassificação do crime de doloso para culposo. “A redução da pena vem em tabela. Queremos mostrar que houve a lesão corporal culposa, mas não o dolo em relação à tentativa de homicídio”, declarou o advogado.

A família de Paulo Ricardo também foi ao local para acompanhar o júri. A mãe do jovem, Joelma da Silva, disse que “a pessoa sair para um estádio de futebol para cometer um ato desses, tirar o vaso sanitário e jogar lá de cima sabendo que tem tantas vidas lá embaixo, foi a maldade”. Bastante abalada, Joelma também levou para o tribunal um cartaz com fotos do filho. “É para mostrar que Paulo Ricardo não era um simples torcedor. Ele era filho, irmão, neto, sobrinho, amigo, uma pessoa muito especial. Espero que a justiça venha a ser feita”, declarou ainda a mãe do jovem.

Família de Paulo Ricardo acompanha o júri popular (Foto: Thays Estarque/ G1)
Família de Paulo Ricardo acompanha o júri popular (Foto: Thays Estarque/ G1)

O comerciante José Paulo Gomes, pai de Paulo Ricardo, lembrou o sofrimento da família. “Eu não queria estar aqui hoje, mas o destino quis. Estou aqui para que tenha justiça, que eles sejam condenados, porquem quem comete um crime tem que pagar e o que eles fizeram foi muito cruel. Parece que foi ontem, não parece que já faz um ano e quatro meses. Eu não queria, mas vou ter que olhar para a cara deles [dos réus], tenho que ter força”, afirmou ainda.

Nesta quarta (2), o júri popular começa com o sorteio dos sete jurados que vão compor o Conselho de Sentença. Em seguida, haveria a leitura da denúncia e a ouvida dos réus, no entanto, os acusados preferiram não se pronunciar. A defesa e acusação terão seus debates e, por fim, os jurados definem se os réus serão condenados ou absolvidos.

Entenda o caso
De acordo com o processo, na noite do dia 2 de maio de 2014, Luiz e Waldir, contando com a participação direta de Everton, teriam arremessado dois vasos sanitários do alto da arquibancada do estádio do Arruda, onde tinha ocorrido uma partida entre Paraná e Santa Cruz, pela Série B do Brasileirão. Os vasos foram jogados na área externa do estádio e atingiram o torcedor Paulo Ricardo, que morreu na hora.

No dia do crime, a partida era entre Santa Cruz e Paraná, no entanto, a torcida do Sport, da qual a vítima fazia parte, também acompanhava o jogo. O motivo dos crimes seria a rivalidade entre as torcidas organizadas do Santa Cruz e do Sport. Outros três torcedores também ficaram feridos por estilhaços dos sanitários.

Paulo Ricardo Gomes da Silva morreu em 2 de maio após sair do jogo. Os objetos foram arremessados de uma altura de 24 metros, de acordo com o Instituto de Criminalística (IC). O professor de física Beraldo Neto avaliou a altura e calculou que os vasos chegaram ao chão com um peso de 350 quilos, cada um.

Os suspeitos foram presos dias após a morte. No dia 12 de maio, eles participaram da reconstituição do crime, que esclareceu detalhes da ação dentro do estádio. Desde então, eles estão detidos no Centro de Triagem (Cotel), em Abreu e Lima, Grande Recife.